Teorias de banheira.

Um dia dei por mim a resolver problemas de matemática e geometria descritiva enquanto tomava banho, algures entre o gel de banho e o shampô, decidi escrever sobre tudo o que me vai na cabeça nestes momentos de puro ócio.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Dia de limpezas...

Todos nós sabemos como custa limpar a casa, e sabemos também, alguns de nós, até que estado deixamos as coisas ir.

Pois é... Senti que precisava de limpar a casa de banho, quando uma vez, ao entrar para a banheira, tropecei num placar que publicitava apartamentos de luxo junto ao ralo. Aproximei-me um pouco mais e fiquei indignadissimo com a proliferação e sucesso da indústria imobiliária dentro da minha própria banheira. Estavam germes a migrar de todo o submundo para esta zona da minha casa de banho. Isto mais parecia a Costa Vicentina em época de festivais. Era incrível, estavam-se a instalar a sério, juro que vi um palco de concertos e tudo.

Decidi que não podia continuar assim, pelo menos não nos termos da lei que regula a construção em zonas protegidas, e a minha banheira, apesar das recentes hostilidades, continua a ser a minha banheira, pela qual nutro um carinho especial.

Larguei o simples e ineficaz esfregão de alumínio e parti em busca de meios um pouco mais severos. Não faz muito o meu tipo, mas este caso requeria o uso de meios sujos, tinha que os atingir onde mais doía e tinha que ser rápido. Sentia-me ultrajado, violado; quem pensariam eles que eram, ocupar assim o espaço privado de uma pessoa. Não ia deixar passar este caso com uma simples limpeza de rosto, tinha que enviar uma mensagem, tinha que os avisar a todos e deixar bem marcado na sua memória este dia.

Saí em busca de armamento pesado. Há um supermercado próximo da minha casa, mas sabia que o seu stock em produtos de limpeza era reduzido, e eu precisava do melhor que há no mercado. Andei cerca de 15 minutos para chegar à mãe das grandes superficies, custou, mas eu sabia que ali encontraria o que procurava. Sem hesitações e determinado a acabar com a festa germal, caminhei a passo rápido para as prateleiras dos productos de limpeza. Encontrava-me agora em frente ao horror de qualquer bactéria, ao pesadelo do fungo mais intrépido. Este seria um dia bíblico na história da bactereologia.
Sentia-me como se estivesse no mercado negro das armas químicas, deve ser assim que se faz, vamos ao guns'r us e escolhemos a maior e mais potente arma de destruição em massa.
Finalmente optei pelo recipiente que tinha o componente com o maior nome, achei que se houve alguêm doido o suficiente para pôr tal nome ao ingrediente, é porque ele o deve ter merecido.
Voltei para casa, pronto para o que se iria passar. Como que um cavaleiro do apocalipse germal, sorri ao breve destino dos que habitavam a minha banheira.

Ao chegar a casa, preparo-me para a investida. Coloco um avental velho, duro e resistente o suficiente, luvas de borracha, uma máscara para os gases nocivos, um gorro e óculos de protecção, que á falta de melhor serviram os da piscina. Leio as instruções atentamente para que nada corra mal, e começo o preparo letal.
Necessitava de água quente e sabia que o cilindro não providênciava a temperatura ideal para que a reacção fosse perfeita, por isso aqueci no fogão as duas únicas panelas que dispunha. Enquanto esperava, esboçei um sorriso malicioso ao cenário que se compunha.
Li nas instruções que uma dose serviria para deixar as louças a brilhar, mas eu não as queria a brilhar, estava disposto a sacrificar fosse o que fosse para ter a minha vitória. Impunemente despejei toda a embalagem dentro do balde da esfregona, conseguia sentir a reação em cadeia, nada sobreviveria a tal cataclismo.

Com todo o meu aparato, caminhei em câmara lenta até ao covil do inimigo. Tinha-o estudado, sabia o seu ponto fraco, desenhara a minha estratégia e preparava-me agora para atacar.
Num acto que roça o genocídio, despejei lentamente o pesado balde com a poção da morte. Certifiquei-me que nenhum canto tinha sido esquecido e aproveitei ao máximo todo o producto de que dispunha. Sentia o fervilhar da sujidade que a todo o custo tentava manter-se à superfície, mas nada podiam, eu tinha sido mais esperto que eles. A batalha estava agora terminada e apenas restavam pequenas e fúteis bolsas de resistência, as que despresivelmente limpei com uma chuveirada. O sol raiava, as nuvens dissipavam-se e o sangue das vís criaturas fora agora substituido por um branco imaculado de louça limpa.

Despi-me vitorioso e numa pose miguelangélica... tomei o meu banho.

2 Comments:

  • At 9:31 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Não sei se realmente foi este o resultado, porque o que eu estava à espera era de um valente buraco no fundo da banheira. Fantástica história, embora com um fim demasiado feliz.

     
  • At 4:10 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    i have the perfect solution for ya...
    LI XI VI YÁ

     

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